Surpreendeu-me ontem o protagonismo que foi dado aos incêndios, nos discursos oficiais de comemoração dos 44 anos do 25 de abril.
Houve quem dissesse que os ideais da revolução também morreram um pouco com os grandes incêndios de 2017.
Ninguém pensa nas responsabilidades do 25 de abril no atual estado de coisas deste portugal pequenino.
Muita gente pensa que o desenvolvimento ocorrido nas últimas 4 décadas, a nível de comunicações, mortalidade infantil, escolarização, etc., derivam do 25 de abril. Um erro.
A evolução própria dos tempos e da tecnologia, teria ocorrido com ou sem o 25 de abril. Foi antes do 25 de abril que Portugal passou a ter aeroportos, televisão e escolarização alargada, por exemplo, sem que isso fosse um mérito exclusivo do Estado Novo.
Contudo, foi a ideologia parva de desenvolvimento desestruturado que fez desertificar as nossas aldeias e o nosso interior. Na década 80, as aldeias serranas exibiam ainda um vigor maravilhoso na demografia e na renovação geracional, com escolas cheias de moços. Depois, com o «amadurecimento» dessa juventude, depressa a malta ficou intoxicada com as ilusões do anunciado progresso, desatou a fugir para o litoral e para as cidades e abandonou os campos e as atividades primárias que os arautos esquerdistas de então apresentavam como sinal de atraso.
Foi isso que transformou os campos, que arderam nos incêndios assassinos do ano 2017.
Se o povo quer é viver nas cidades e só pensa na natureza para fazer desporto e piqueniques, não há interior nem florestas que resistam. Foi no que deu a intoxicação ideológica de há 4 décadas.